terça-feira, 14 de outubro de 2008

O surrealismo está derretendo.

A situação está difícil pra todo mundo. Pensei até em fundar um banco para ser ajudado. Mas para o lado dos artistas surrealistas a coisa está pior. Sofremos com os efeitos da crise, como de resto todos os que estão vivos, e ainda por cima vemos o movimento que fundamos ser avacalhado publicamente.

Imagens que produzi – como a dos relógios derretidos em minha pintura A Persistência da Memória – vêem sua força subtraída quando comparadas ao quadro pintado pela queda das bolsas. O que é um simples artefato que marca o tempo se liquefazendo perto da imagem de um sistema financeiro mundial indo para o ralo? Não bastasse esse golpe imagético sem precedentes, outros surrealistas (que nunca freqüentaram uma escola de arte ou museu) aparecem aos borbotões nas televisões com a missão de explicar o que está acontecendo. Esses artistas da live performance, que se intitulam economistas, disparam todo e qualquer tipo de análise absurda, sem nenhum compromisso com a lógica ou com a realidade. Fazem previsões de cenários otimistas, pessimistas e imutáveis apenas por esporte ou para preencher os espaços a eles concedidos.

Por isso pergunto: ainda tem sentido eu produzir imagens como a de elefantes com patas longas, finas e frágeis ou de um telefone cujo fone é uma lagosta?
Eu respondo. Já não tinha sentido, agora tem menos ainda. Essa concorrência é predatória e desleal. Pois esses novos surrealistas não se identificam como artistas. Fazem sua arte com falsidade ideológica, travestidos de cientistas do mercado. Ocupam largos espaços na mídia, sempre usando um tom sério e solene. Nunca dão uma piscadinha ou um mínimo sinal de que aquilo que estão dizendo não é para ser entendido ou levado a sério. Se ao menos eles colocassem uma risada de claque de tempos em tempos, as pessoas poderiam consumir como uma forma de humor.

Estou largando o surrealismo. Vou me dedicar ao hiper-realismo. É a única maneira de me manter fiel ao movimento que me notabilizou. E já começo praticando. No vídeo abaixo, vocês encontram a minha análise e receita para acabar com a crise do sistema financeiro.

6 comentários:

Anônimo disse...

Gente, como é que até agora ninguém respondeu? foi a melhor descrição do surrealismo financeiro globalizado que já li, e concordo plenamente que o hiper-realismo seja o único caminho para a arte, frente ao caos desorganizado contemporâneo.

Dali, vai fundo e espero que consiga vender o seu blog, vc já viu o andar vazio da Bienal de São Paulo? É uma expressão do su ou do hiper-realismo financeiro da arte contemporânea?

Vc faz todo o sentido !!

bjcas, Vini PC

Anônimo disse...

DIMAIS!

Tatazinho disse...

bom, bom...

Anônimo disse...

DIMAIS....BOM,BOM...REALMENTE O PESSOAL TA MUITO ESFORÇADO NO QUISITE COMENTÁRIO....
PARA PIORAR AS COISAS, EU DIRIA QUE NO CENÁRIO POLÍTICO-FINANCEIRO DO BRASIL, NUM ENTENDI A METÁFORA USADA COLOCANDO O LULA NO GOVERNO...DALI VC FALOU QUE O SURREALISMO É UMA PARANOIA-CRÍTICA, MAS A PARANO HÁ DE SER LOGICAMENTE ENTENDIDA PARA PERDER A SUA RAZÃO DE SER ( OU SERÁ QUE NÃO TEM CURA ?), SENÃO O SUJEITO VAI PRUM SEGUNDO MANDATO SEM NINGUÉM ENTENDER ... AINDA BEM QUE NÃO TEM O TERCEIRO SENÃO, A CRÍTICA IA PARANOIAR...
AINDA BEM TB QUE VC NÃO ERA PORTUGUÉS....VC PODERIA TER SIDO ELEITO PRESIDENTE E TER IMPORTADO A BAHIA PROS ARREDORES DE LISBOA...
JOAQUIM

Anônimo disse...

Muito bom em Dali , mas peço que fique com o surrealismo , a arte ainda precisa disso ,agora quem precisa de uma boa bomba de hiper-realismo é as pessoas desse mundo , para deixarem de ser idiotas e sairem dessa lavagem cerebral em que o poder , como a mídia querem fazer conosco.

Isa disse...

"Ocupam largos espaços na mídia, sempre usando um tom sério e solene. Nunca dão uma piscadinha ou um mínimo sinal de que aquilo que estão dizendo não é para ser entendido ou levado a sério"


genial!